O mundo
atual em que vivemos estabeleceu padrões para a vida moderna, e um desses
padrões é o que ínsita as pessoas a se tornarem “adquiridoras”, colecionadoras
e acumuladoras de praticamente tudo. A sociedade propaga, incansavelmente, a
ideia de que uma vida plena só pode ser alcançada através da aquisição
constante e do acúmulo de bens materiais; este é o motivo pelo qual as pessoas
têm feito tanto esforço e sacrifícios para adquirir e acumular cada vez mais
objetos, assim como, procurado aumentar suas posses e pertences a todo custo,
ano após ano.
Por causa
dessa mentalidade e visão distorcidas as pessoas têm vivido suas vidas em um
constante ciclo de aquisições e acúmulos diversos; homens e mulheres, jovens e
adultos, todos passando pela vida com a mente orientada sempre para a próxima
aquisição, o próximo brinquedo, o próximo game, a próxima roupa, o próximo
acessório, o próximo eletrônico, o próximo produto, o próximo carro etc...
Por
manifestar esse tipo de comportamento, um fenômeno social tem se tornado cada
vez mais comum nos dias de hoje. As pessoas estão ficando sem espaço físico em
seus armários, gavetas, guarda-roupas, cômodos, garagens, quintais, varandas,
casas, e, consequentemente, em suas vidas; ou seja, o acúmulo de bens materiais
e posses que eles julgam ser riquezas e símbolos de seu poder aquisitivo,
sucesso e realização pessoal e profissional está literalmente entulhando a vida
das pessoas, tanto fisicamente, roubando e ocupando espaços que poderiam ser
muito mais bem aproveitados com um pouco mais de imaginação e um pouco menos de
tralha; quanto mentalmente, na medida em que todos esses bens e posses estão
também ocupando um considerável espaço dentro dos pensamentos, sentimentos e
emoções das pessoas todos os dias, e, com isso, distraindo-os do que é mais
importante e roubando a atenção que deveria ser melhor empregada em uma
experiência cotidiana com mais propósito, usabilidade, praticidade e
produtividade.
Ao contrário
do que a sociedade moderna declara; o acúmulo massivo de bens e posses não é
uma atitude benéfica para a vida dos indivíduos, pelo contrário, porque após um
determinado patamar, tudo o que a pessoa possui passa a possuí-la também; ou
seja, imagine alguém que possua uma enorme quantidade de livros em casa, em
dado momento tal pessoa terá de organizá-los e limpá-los, tarefa essa que pode
não ser tão agradável assim de ser feita dependendo da quantidade de livros que
estivermos falando, o mesmo também ocorre com roupas, acessórios, games,
sapatos, eletrônicos, utensílios e praticamente todas as coisas que podem seu
acumuladas; todas as coisas precisam ser cuidadas, mantidas e reparadas; mas
sempre há uma outra opção que é nunca ou quase nunca limpá-los e
arrumá-los, algo que obviamente torna a casa e a vida de muitos em um
verdadeiro caos; e acredite, uma grande quantidade de pessoas também têm
preferido viver dessa maneira.
Todo aquele
tempo gasto com a limpeza, manutenção e a organização de uma enorme biblioteca
pessoal (por exemplo) repleta de títulos lidos, não lidos e lidos pela metade,
poderia ser melhor utilizado de maneira muito mais produtiva como escrevendo um
texto igual a esse ou estudando algo relevante capaz de agregar conhecimento e
valor ao dia a dia ou mesmo fazendo qualquer outra coisa que pudesse ser mais
proveitosa para a própria pessoa ou para ajudar outros, como voluntariado.
Compreenda que citei o exemplo dos livros porque foi algo que aconteceu comigo
não uma, mas duas vezes em momentos diferentes da minha vida; quando mais novo
eu simplesmente entulhei o meu quarto com uma quantidade absurda de revistas em
quadrinhos de todos os tipos, era meu passatempo preferido, mas estava
completamente fora de controle, eu as comprava porque todos os garotos da minha
idade faziam o mesmo e o senso comum nos ensinou que fazer aquilo era algo bom;
mais tarde por necessidade de recuperar o espaço que eu havia perdido em meu
próprio quarto, me desfiz de todas aquelas revistas, mas passei a acumular
livros, pois a leitura de romances de ficção se tornou um hábito que passei a
cultivar logo após a adolescência. O fato é que em pouco tempo meu quarto
estava novamente repleto de livros de uma maneira tal que havia pouco espaço
físico sobrando, além de me fazer gastar muito tempo da minha semana com
limpeza e organização quando, na verdade, eu desejava estar fazendo outras
coisas; mas mantinha os livros porque os considerava como minha riqueza
particular. Não me entenda
mal, o hábito da leitura é algo extremamente saudável, mas ele não pode ser
algo que vai adicionar mais peso para você carregar através dos anos, pelo contrário
ele deve ser um hábito capaz de prover maior liberdade de pensamento. O mesmo
ocorre com todos os nossos hábitos, dentre eles o hábito de adquirir incessantemente
todo tipo de coisas, todos eles devem ser sempre voltados para gerar em nós
liberdade de modo a retirar o peso que a vida moderna teima em colocar sobre
nossos ombros.
Em certa
altura da minha vida eu percebi que não precisava possuir fisicamente tantos
livros e isso me libertou na medida em que ao me desfazer deles, dando e
doando-os, recuperei o espaço físico que se havia perdido no meu quarto e
adquiri mais tempo para me dedicar ao que para mim é mais importante, como
escrever, mas o melhor é que passei a utilizar esse mesmo conceito, essa mesma
visão libertadora para tudo na minha vida. De fato esse pensamento pode ser
facilmente espalhado e replicado em absolutamente todas as áreas de nossa vida,
e essa é exatamente a forma como as pessoas realmente realizadas lidam com seus
bens e posses no dia a dia; ou seja, eles sabem que não precisam ter tantas
coisas entulhando seus móveis, seus cômodos, sua casa, sua mente e sua vida
para desfrutar de plenitude e conforto real, na verdade, tais coisas, assim
como a liberdade, se conquistam com menos e não com mais. Porém, não me entenda
mal, pois quando digo que pessoas realizadas precisam de menos não estou
falando de ter falta nem de viver em escassez, definitivamente não é isso, ao
contrário, o que estou dizendo aqui é que esses indivíduos aprendem a adquirir
bens materiais e posses de maneira sábia, racional e sem exageros ou loucuras;
ou seja, se alguém lê um livro ao mês, porque compraria cinco todos os meses,
ou, se alguém ainda possui roupas não usadas em seu guarda-roupas porque
continuaria comprando mais que também não usaria, ou, se um indivíduo usa
apenas um relógio porque possuiria uma coleção com dez, vinte ou trinta. Espero
que você esteja compreendendo o que estou tentando compartilhar.
As pessoas
fazem esse tipo de coisa porque esse é o nosso padrão social, esse é o modelo
tido como correto pela maioria, teoricamente essa seria a forma como os
bem-sucedidos vivem, logo, todas as pessoas da sociedade tendem seguir à risca
essa filosofia; criando oportunidades e ocasiões continuamente para
adquirir mais e mais bens materiais e posses sem propósito que julgam ser tesouros e símbolos
de riqueza, mas não percebem que em grande parte de tudo o que diz respeito ao
nosso modo de vida, menos é mais.
Enquanto verdadeiras
multidões estão se soterrando física e mentalmente sob uma grande
quantidade de posses, bens materiais e de consumo e, por isso, perdendo a
capacidade de gerenciar o espaço físico onde vivem, o tempo que possuem e a
vida de modo geral, porque ninguém consegue lidar bem com um tão grande número
de demandas e distrações exigindo atenção constantemente. As pessoas
conscientemente realizadas prezam pela simplicidade, mantendo o foco em possuir
liberdade, seja na forma de espaço físico disponível para que possam decidir o
que fazer para usá-lo da melhor maneira, ou seja na forma de mais tempo para
ser bem utilizado e principalmente investido de maneira realmente produtiva.
Adquirir,
acumular e colecionar bens materiais e posses diversas apenas porque é um
comportamento socialmente incentivado, através das milhares de propagandas em
todas as mídias que dizem que tais bens e posses são riquezas, não faz ninguém
ficar realmente rico, pelo contrário, na medida em que rouba o espaço e a
liberdade física, assim como, torna cativa a mente de todos os que vivem desse
modo, podemos concluir que quem vive assim está, na verdade experimentando uma
vida pobre, talvez não de dinheiro, mas certamente de significado e propósito.
Portanto tenha em mente que toda pessoa realmente realizada, independente da
classe social ou do nível de rendimento mensal que receba ou produza, vive de
maneira consciente, intencional, racional, sustentável e ajustada à sua
realidade de modo que aos olhos desavisados dos que estão à sua volta pode até
parecer que eles têm pouco, no sentido de não cultivarem exageros e acúmulos,
mas tudo o que essas pessoas possuem é extremamente útil a eles, tudo tem um
propósito, uma usabilidade real que visa gerar praticidade cotidiana; por esse
motivo conseguem fazer muito mais com menos, são mais efetivos e mais eficazes
em todas as áreas da vida, possuem menos estresse, menos frustrações e carregam
menos peso emocional; eles conseguem desfrutar de maior plenitude e realização
pessoal verdadeira, porque sua plenitude não está atrelada a bens e posses.
Estas pessoas
que compreendem que menos é mais não buscam ter mais e mais bens e posses, eles
procuram ter apenas os bens e as posses certas para suas vidas. E se você
compreender o que foi compartilhado aqui, vai perceber que precisa de menos
para ser e fazer mais do que a média dos que estão vivendo essa vida moderna
atribulada.

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