Todos nós sabemos muito bem o que é a preguiça e também sabemos o que ela faz com a vida das pessoas que a cultivam; todos nós já sentimos os efeitos dela em nossa própria vida, ao menos uma vez, em menor ou maior grau. Mas eu quero conversar com vocês a respeito do modo mais disfarçado que a preguiça assume; um tipo que está se multiplicando assustadoramente nos dias atuais.
Primeiramente precisamos compreender que a preguiça é biológica,
ou seja, por definição, a mente da todas as pessoas é naturalmente preguiçosa;
basta ver que não é raro evitarmos a todo custo ter de fazer quaisquer esforços
físicos ou mesmo mentais que julguemos desnecessários, mesmo que saibamos que
sejam importantes; por exemplo: Hoje em dia todos sabem que dedicar um pouco de
tempo para praticar algum tipo de exercício faz bem à saúde, mas a pergunta que
faço é: Todos praticam? Ou melhor. Você pratica? Se você é um daqueles que
costuma praticar exercícios, parabéns, mas saiba que você faz parte da minoria
humana, porque a maioria das pessoas têm preguiça de exercitar mesmo sabendo
que uma vida com melhor saúde e mais qualidade depende disso. Outro exemplo que
posso citar aqui é: Praticamente todas as pessoas têm conhecimento de que
desenvolver o hábito de ler é uma excelente maneira de evoluir pessoalmente,
adquirir mais conhecimento, conteúdo, informações relevantes e até mesmo certo
grau de sabedoria, além é claro, de ser também um ótimo modo de ativar o
cérebro de forma a prevenir, até mesmo, certas doenças no futuro; mas quantas
pessoas você conhece que gostam realmente de ler e têm esse hábito praticado
diariamente? Não estou falando daquelas pessoas que até gostam de ler, mas
fazem isso apenas de vez em quando; estou falando daqueles que incorporaram
esse hábito na vida que têm, ou seja, aqueles indivíduos que sempre estão lendo
algo valioso e interessante que contribua para seu crescimento mental, social,
profissional e espiritual. Provavelmente você conheça poucas ou
pouquíssimas pessoas como estas e isso acontece porque a maioria da humanidade
simplesmente têm preguiça de ler.
E por que isso ocorre?
Isso acontece basicamente porque nosso cérebro é uma máquina que
se não for doutrinada de outra maneira, sempre funcionará de modo a fazer com
que gastemos o mínimo de energia possível a cada dia, nosso cérebro foi criado
com algumas "programações" vitais e uma delas é manter nosso corpo
carregado para uma eventualidade e funcionando em equilíbrio o máximo de anos
possível, para tanto, uma das formas usadas é a economia de energia que se não
for controlada pode acabar se tornando em preguiça. Nosso cérebro entende que
devemos gastar energia apenas em três situações principais, são elas, conseguir
alimento, procurar prazer e fugir de perigos; é para estas situações, e é
claro, algumas derivações delas, que nossa mente armazena energia. É por causa desta preguiça mental que
existem hábitos como o de encurtar o máximo possível as palavras e frases,
rotular pessoas, repetir o que já foi feito e muitos outros; assim como a
tendência que temos de criar atalhos para praticamente tudo o que fazemos na
vida. Tudo isso não é nada mais do que nosso cérebro operando em modo de
economia de energia.
Mas se isso é algo natural, então porque seria ruim?
Embora nosso cérebro seja naturalmente preguiçoso, não é bom permitir que ele nos controle e aplique essa mecânica em todas as áreas da nossa vida; porque isso nos transformará em pessoas preguiçosas, e esse tipo de pessoa é aquela que não alcança seu máximo potencial na vida, não realizam sonhos, não ajudam outros, não concretizam sua visão e enterram todos os seus talentos. Por mais estranho que pareça, saiba que a maior parte do nosso cérebro não é racional; ela é sistemática; e o que isso significa? Nosso cérebro não gosta de repetir raciocínios já feitos anteriormente, ou seja, a partir do momento que alguma informação é processada em nosso cérebro gerando uma conclusão ou resultado, é da natureza cerebral não querer repetir tal raciocínio mesmo que os resultados e conclusões destes raciocínios estejam errados, eis o motivo pelo qual as pessoas criam tanta resistência a mudar suas convicções, opiniões e jeito de interagir com o ambiente ao redor. O fato é que nosso cérebro cria sistemas que "emulam" raciocínios, mas que na verdade estão apenas copiando para situações novas raciocínios que já foram feitos antes, e tudo isso para não ter o trabalho de gastar energia pensando em novas situações tendo de analisá-las com todas as suas especificidades, variáveis e variações, é o clássico, Ctrl+C, Ctrl+V; nem preciso dizer que esse mecanismo é o que causa tantos desentendimentos, confusões, falta de comunicação adequada e tantas outras distorções desde as menores como trocar palavras ao ler, falar ou escrever, até grandes como intransigência e intolerância. Tenho certeza de que você alguma vez já se enganou ao ler uma palavra pensando que era outra semelhante, isso aconteceu porque seu cérebro quando identificou as primeiras letras da palavra que você estava lendo, automaticamente, para economizar tempo e energia, lançou mão deste sistema que chamo de "vocabulário preditivo" fazendo uso da primeira palavra com as mesmas iniciais que ele encontrou em sua memória e fazendo você acreditar, mesmo que por pouco tempo, que aquela palavra errada era a que estava escrita. Funciona mais ou menos como o corretor ortográfico do seu celular, às vezes escrevemos uma palavra e ele julga que é outra.
Precisamos ficar atentos porque somos nós quem devemos controlar nosso cérebro e definir claramente quais atividades devemos fazer com mais ou menos intensidade e foco ou quando teremos os períodos apropriados de recuperação da energia gasta, seja fisicamente ou mentalmente.
Mas você pode dizer: Não tenho nenhum problema quanto a preguiça, pois sou
muito ativo(a), estou sempre envolvido em todo tipo de atividades que posso,
trabalho muito duro, estudo bastante, na verdade o que me falta é tempo para
fazer mais. Parabéns por sua disposição, mas saiba que isso também pode
ser sinal de preguiça.
Então você pensa: Mais como isso é possível?
Até agora falamos da preguiça clássica, biológica e natural, que é facilmente identificada, mas nos dias atuais existe um outro tipo de preguiça, disfarçada, mais sorrateira do que a natural e não tão fácil de ser identificada. Tratasse da preguiça disfarçada em ocupações.
Parece não fazer sentido, mas tenho certeza de que você já deve ter alguma noção do que vou falar a seguir. Atualmente as pessoas dizem que não tem tempo para se exercitar porque estão muito ocupados fazendo outras coisas, outros dizem que não têm tempo para se dedicar a leituras que adicionem valor pessoal à suas vidas porque já estão estudando muito e necessitam de um descanso mental. O fato aqui é que ninguém quer ser visto como preguiçoso, então consciente ou inconscientemente descobrem uma forma de afastar completamente aquela preguiça natural da forma como vivem, entretanto, fazem isso usando exatamente essa outra forma moderna de preguiça, que se manifesta de duas maneiras; a primeira é ocupando-se tanto e sistematicamente com várias coisas que não terão tempo para construir a vida que realmente e intimamente desejam viver; e a segunda é: Por estarem sempre tão atarefados e com tantas preocupações periféricas todos os dias, muitas delas legítimas, mas totalmente desalinhadas com quem são realmente, acabam sempre deixando o mais importante para depois, para o próximo dia, para a próxima semana, para o próximo mês, o próximo ano e assim por diante; a conhecida procrastinação; e quando se dão conta não têm tempo para fazer o que deve ser feito, estão enrolados em várias confusões que não os permitem se realizarem; estão sempre trabalhando, estudando, fazendo isso e fazendo aquilo. Estas pessoas passam a viver apenas como peças de um sistema maior, sem vida própria simplesmente porque adotaram para si esta preguiça que ao invés de mantê-los completamente imóveis faz o oposto e os mantem constantemente em movimento, porém não racional e na direção errada; logo, para que consigam colocar sua vida no caminho certo e alcançar seus desejos e aspirações terão de fazer um esforço muito maior do que aquele que já estão fazendo e como nossa mente natural sistemática é direcionada para gastar sempre menos energia, ela se opõe completamente a qualquer mudança que envolva ter de fazer ainda mais esforço. Com isso muitas pessoas tem simplesmente assistido durante os dias, meses e anos que vão passando enquanto os seus desejos simplesmente morrem bem diante deles.
A verdade é que alguns preguiçosos precisam sair da inércia e começar a se mover na direção certa, rumo a realização de sua visão, sonhos e missão de vida, entretanto, outros preguiçosos precisam primeiro parar de se mover na direção errada e aplicar racionalidade em tudo o que faz para só então recomeçar a caminhar na direção certa; uns precisam trabalhar mais, mas outros precisam trabalhar menos, eliminando tudo aquilo que não está contribuindo realmente para chegar no patamar que desejam alcançar, do contrário, tanto uns quanto outros acabarão vivendo sem ter consciência do que é a vida, uns sem se envolver no que é importante e outros envolvidos em tudo o que não tem importância; uns sem nunca usar seus talentos e dons e outros usando todos os seus talentos e dons no lugar errado.
Se você não quer ver a sua existência passar bem diante dos seus olhos e perceber que você não está indo a lugar algum, mesmo se estiver sufocado por tantos afazeres e tarefas, trabalho, estudo e outras coisas como estas; faça essa análise em si mesmo, force a quela pequena parte de seu cérebro que é racional a controlar todo o resto, e se for o caso, não se recuse a fazer o que tiver de ser feito; saia da inércia se for o caso, elimine a procrastinação se for o caso, ou mesmo, pare de se sobrecarregar com tarefas que não fazem sentido, não tem importância e não vão levar sua vida a lugar nenhum a não ser frustrações futuras. Não deixe seus sonhos morrerem, seus desejos se perderem e sua visão se desfazer, seja livre, seja ativo, seja racional, seja simples e seja produtivo; trabalhe na direção certa.

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