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Livre-se de suas próprias opiniões e seja mais sábio(a).

 


Opiniões são um dos elementos mais inúteis da nossa sociedade, entretanto, são também  um dos mais abundantes e supervalorizados, principalmente nessa época hiper-conectada na qual nosso modo de vida praticamente nos expõe diariamente a um turbilhão de temas e assuntos, muitos deles, polêmicos e estéreis, que acabam produzindo na mente e no coração das pessoas uma verdadeira enxurrada de comentários e críticas opinativas que são espalhadas por toda parte da sociedade na forma de textos, áudios e vídeos, com o intuito de influenciar, convencer, converter, manipular ou simplesmente agredir outros indivíduos.

E sabe o que é pior em tudo isso?

Esse comportamento infantil é considerado pelas multidões como uma espécie de demonstração de sabedoria. Todas essas pessoas que estão sempre prontas para emitir suas opiniões, mesmo, e principalmente, quando não solicitadas, enxergam a si mesmos como sábios modernos, embora não admitam; talvez não seja algo proposital na mente deles, mas mesmo de maneira inconsciente tais indivíduos são guiados pelo próprio ego; eles acreditam que a sociedade, seus círculos de amizade e todos com que têm contato não conseguiriam viver sem ouvir, ver ou ler as "pérolas de sabedoria" que eles estão distribuindo de forma aleatória e gratuita sempre que possível. Eles não sabem, mas como o escritor estoico Ryan Holiday colocou em seu livro, O Ego é o inimigo: "Nosso ego elimina qualquer chance de servirmos à missão da qual fazemos parte".

A maioria esmagadora da população não conseguem evitar fazer disparar opiniões para todo lado sempre que possível querendo que todos as aceitem como verdades absolutas a respeito de qualquer tema, e esse é um dos motivos pelos quais eles ficam tão agressivos quando suas opiniões são contestadas ou rejeitadas por outras pessoas, pois lá no fundo eles pensam mais ou menos o seguinte: Como alguém ousa contestar ou rejeitar minhas opiniões se tudo o que eu falo está muito bem estruturado e baseado em fatos e evidências? Mas o que talvez essas pessoas não percebam é que em quase 100% dos casos os fatos e evidências nos quais nos baseamos para estruturar nossas opiniões são os que estão, de alguma maneira, alinhados com nossa forma de ver a realidade e a sociedade, ou seja, nossas opiniões estão apoiadas apenas por nossas próprias preferências, percepções e inclinações sociais, políticas, religiosas e etc...; logo, são opiniões com algum tipo de vício de origem, e estéreis, de modo que podem levar os outros a erros, incompreensões e confrontos, porque não contemplam o todo das coisas, mas apenas as partes que nos interessa. De fato, como foi dito pelo escrito Oscar Wilde: "Se soubessemos quantas vezes nossas palavras são mal interpretadas haveria muito mais silêncio no mundo".

Pessoas realmente sábias quase nunca emitem opiniões sobre qualquer assunto, primeiro porque entendem que os indivíduos ao redor estão sempre inclinados a distorcer tudo o que escutam, principalmente, se não estiver alinhado com suas preferências (sociais, políticas, religiosas e etc...); e segundo, porque sabem que opiniões, mesmo as bem intencionadas, tendem a gerar outras opiniões contrárias que não visam encontrar nenhuma solução ou denominador comum entre as partes, mas simplesmente, produzir debates sem sentido, contendas de palavras, para provar que o ponto de vista de alguém, com o ego inchado, está certo e que o do outro está errado; ou uma batalha verbal sem fim entre duas ou mais pessoas também com o ego inflado por sua própria "pseudo-sabedoria". Esses debates e combates opinativos que podem ser vistos por toda parte, na televisão, na internet e dentro de quase todos os espaços físicos da sociedade como escolas, empresas, universidades, e até congregações, são um exercício unicamente do ego humano; por esse motivo o imperador romano Marco Aurélio escreveu em suas meditações pessoais o seguinte lembrete para si mesmo: "Suprima suas opiniões e estará seguro. Quem te impede de agir assim?"

Todo sábio verdadeiro evita ao máximo possível tomar parte nesses espetáculos monstruosos que são os combates de opinião sobre qualquer tema, onde as pessoas, vendo a si mesmos como sábios, tentam forçar sua maneira de compreender e interagir com o mundo sobre as outras pessoas; e isso por si só já é uma das faces da loucura; qualquer um que se dedique minimamente à sabedoria sabe que ela é modesta, fala pouco, e nunca discute; mas a tolice (loucura) gosta de aparecer, é tagarela, e adora criar e alimentar discussões de todos os tamanhos e tipos sobre tudo. 

Eu também adorava dar opiniões sobre tudo, mas quando o percebi que isso não era realmente útil, adquiri um pouco de compreensão e isso me fez entender que não possuo entendimento suficiente para opinar sobre quase nada do que eu achava entender. Foi quando eu percebi que na maioria das vezes é muito melhor permanecer em um silêncio consciente e intencional do que se entregar à falação inconsciente e inconsequente. Deixe que os "sábios" da sociedade gritem uns com os outros e discutam entre si, pois todos eles achando-se sábios tornaram-se tolos e nem perceberam.

Quer dizer que não posso dar opiniões sobre temas que domino?

É claro que pode; o que estou dizendo é que é bem mais sábio não fazê-lo, por um motivo muito simples. A maioria absoluta das pessoas não está interessada nas nossa opiniões por mais bem intencionados que sejamos, o que eles querem de verdade é encontrar algo dentro das nossas opiniões, uma ideia, um conceito, uma crença, ou qualquer coisa que vá de encontro às opiniões deles para que possam usar isso como ponto de partida para uma batalha completamente sem sentido contra nós. Infelizmente há pessoas, desde indivíduos comuns, passando por membros e líderes religiosos, até presidentes de nações, que por falta de entendimento correto, se enveredaram nessas batalhas de opiniões e tornaram-se prisioneiros delas, vivem praticamente todos os dias atacando alguém ou se defendendo dos ataques de alguém, seja nos ambientes virtuais como nas redes sociais, ou nos lugares físicos que frequentam.

E o que eles ganham com isso?

Uma vida muito mais pesada do que o necessário. Eles voluntariamente aumentam a quantidade de estresse, raiva, angústia, insatisfação com as quais tem de lidar diariamente; eles submetem e sobrecarregam a própria mente com toda essa loucura perturbadora; como foi dito pelo rei Salomão: "...O que muito abre os lábios (fala, critica, opina, discute, debate) tem perturbação.".

A sociedade atual sussurra no ouvido da humanidade que cada indivíduo deve ter opiniões formadas sobre todos os temas possíveis, ou pelo menos no máximo de assuntos que pudermos opinar, principalmente os mais polêmicos; ela também diz sutilmente que nossas opiniões devem ser sempre firmes e fortes, pois isso seria uma forma de marcarmos nossas posições e mostrarmos a todos ao nosso redor que somos pessoas firmes e fortes. Claro que esse argumento não passa de mais uma das falácias que a sociedade sopra sobre os homens. De fato, todas as vezes que vemos alguém dizer que é uma pessoa de opiniões fortes, a possibilidade de tal pessoa ser um tolo passando-se por sábio é enorme; porque pessoas de "opiniões fortes" é, na verdade, uma forma sofisticada que eles encontraram para dizer que são intransigentes, ou seja, são aqueles que não abrirão mão das suas opiniões mesmo que elas façam mal a eles mesmos e aos outros; eles querem, todo o tempo, provar que estão com a razão, ao invés de encontrar soluções, e essa é uma das principais características dos tolos e infelizes, que acham que são capazes de produzir alguma luz com esse comportamento, mas na verdade são muito mais parecidos com lâmpadas apagadas.

Os sábios de verdade não precisam provar nada para ninguém, não precisam sair disparando opiniões pra todo lado, pois a sabedoria não é um distintivo ou uma medalha que eles ficam por aí mostrando ou ostentando para todos ao redor, a sabedoria é a essência dos sábios, ela é cultivada no silêncio consciente e produtivo; e, começa no fato de serem sábios neles mesmos, internamente, sem qualquer vaidade ou pretensão de ter de se mostrar na sociedade; de fato, sábios de verdade detestam chamar atenção para si e para a sabedoria que possuem, pois geralmente ela é ridicularizada, diminuída, e atacada das mais variadas formas pela maioria tola que inunda a sociedade. A sabedoria dos sábios é como a gravidade; uma força extremamente poderosa que produz inúmeros benefícios, mas que não vemos, apenas percebemos as evidências de sua existência e a ação dela no meio ambiente. O antigo poeta grego Hesíodo dizia que o maior tesouro de uma pessoa é uma língua econômica. 

Atualmente temos muitos "sábios sociais" alardeando indiretamente a própria sabedoria, mas que na verdade se utilizam de pseudo sabedoria, ou seja, são especialistas em todas as coisas, são professores, doutores, empresários, políticos, pastores, pesquisadores e muitos outros profissionais que se aproveitam de seu conhecimento técnico e posição para opinarem sobre tudo, principalmente sobre coisas que não tem qualquer ligação com a área de atuação deles, e produzem ou alimentam diversas contendas enquanto tentam convencer, à força, outros indivíduos. 

Também há uma nova linhagem de "sábios sociais", estes são pessoas que simplesmente perceberam que nos dias atuais qualquer um pode falar o que quiser e se passar por especialista ou projetar uma imagem de "sábio social", contanto que demonstre firmemente suas opiniões nos mais diversos meios possíveis. Mas enquanto esses os sábios-tolos estão sempre tentando provar que são sábios através da propagação massiva de suas opiniões os verdadeiros sábios protegem e guardam, a sabedoria, pois entendem que assim ela produz mais e melhor tanto para eles mesmos quanto para todos ao redor, sem a necessidade de qualquer tipo de reconhecimento externo por parte da sociedade. Certa vez ouvi uma frase que se fixou na minha mente; é uma afirmação do filósofo chinês Lao Tzu, que diz: "Aqueles que sabem não falam (não opinam, não discutem). Aqueles que falam (opinam e discutem) não sabem".

A boa notícia é que qualquer um pode trilhar o caminho da verdadeira sabedoria, e o primeiro passo para isso é parar de se envolver em contendas opinativas, físicas ou virtuais, com os sábios-loucos da sociedade atual; pois como foi dito pelo escritor norte americano Mark Twain: "Não discuta com tolos, porque te arrastam para o nível deles e te vencem porque possuem mais experiência."; ou seja, quando gastamos nosso tempo discutindo e debatendo opiniões contra um tolo (sábio-louco), não há como vencer, pois mesmo que ele não nos convença a adotar a sua maneira de ver o mundo, mesmo que sejamos capazes de demonstrar que ele não tem razão, nós perdemos, porque tivemos de nos fazer iguais a ele para conseguir tal feito.  

A verdadeira sabedoria raras vezes se demonstra por palavras, mas sim por ações. O sábio de verdade compreende que quaisquer palavras, mesmo as Palavras da verdade podem ser desprezadas por indivíduos com o ego inflado e opiniões firmes e fortes sobre tudo, mas ações são incontestáveis.

Os sábios sabem co-existir, mesmo com diferenças de pensamento uns com os outros, mas os tolos (loucos) querem o mundo inteiro só para eles.

Os sábios possuem pontos de vista que podem ser examinados de formas pacificas, instrutivas, saudáveis e civilizadas para produzir soluções e sabedoria para os ouvintes de suas palavras e para toda a coletividade por meio de suas ações; já os tolos acham que possuem opiniões, mas não sabem que são as opiniões que os possuem.  

 

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